18 de jun. de 2014

Resenha: O Sol é para Todos

Autora: Harper Lee
Editora: José Olympio
Páginas: 364
Classificação: 4/5

Skoob

Sinopse: O sol é para todos conta a história de duas crianças no árido terreno sulista norte-americano da Grande Depressão no início dos anos 1930. Jem e Scout Finch testemunham a ignorância e o preconceito em sua cidade, Maycomb – símbolo dos conservadores estados do sul dos EUA, empobrecidos pela crise econômica, agravante do clima de tensão social. A esperta e sensível Scout, narradora da trama, e Jem, seu irmão mais velho, são filhos do advogado Atticus Finch, encarregado de defender Tom Robinson, um homem negro acusado de estuprar uma jovem branca. Mas não é só nessa acusação e no julgamento de Robinson que os irmãos percebem o racismo do pequeno município do Alabama onde moram. Nos três anos em que se passa a narrativa, deparam-se com diversas situações em que negros e brancos se confrontam. Ao longo do livro, os dois irmãos e seu pequeno amigo de férias, Dill, passam por tensas aventuras, grandes surpresas e importantes descobertas. Nos episódios vividos ao lado de personagens cativantes, como Calpúrnia, Boo Radley e Dolphus Raymond, aprendem e ensinam sobre a empatia, a tolerância, o respeito ao próximo e a necessidade de se estar sempre aberto a novas idéias e perspectivas.



 Uma breve introdução do contexto do livro: a história se passa na época da Grande Depressão, no sul dos EUA, em foi escrita em meados de 1950, quando a desigualdade racial, de gênero e de classe era um aspecto marcante da sociedade. Assim, o livro serve também como uma denúncia para uma cidade parcialmente corrompida por seus ideais distorcidos, onde um negro seria tratado como lixo e sua vontade seria completamente descartada. Claro que existem exceções, mas a grande maioria da população de Maycomb despreza os negros, se recusando até a encostá-los.

É um clássico da literatura americana, publicado pela primeira vez em 1960 e já com edições espalhadas pelo mundo todo. Foi um grande sucesso na época que foi lançado, e é até hoje um dos livros que mais influenciam a literatura americana. Ele faz parte da chamada literatura gótica, que dá aos personagens certos padrões, como o herói, os vilões, a donzela, sem uma certa dimensão maior, além do padrão que eles devem seguir. Ela é geralmente associada a livros de terror, como Frankenstein, Drácula e O Retrato de Dorian Gray, apesar de não ser esse caso. Os cenários também tendem a ter grande influência na história, sendo por parte de símbolos ou as reflexões que provoca.  O sobrenatural, aspectos religiosos, políticos e o uso do poder também são frequentes nesse tipo de literatura. 

Enfim, vamos à história! A história é narrada em primeira pessoa por Scout, a protagonista, uma garota de 6 anos no começo do livro. Por ser o olhar infantil dos fatos, o livro se torna extremamente ingênio e sincero, pois Scout não entende o porquê de diferenciarem homens brancos de homens pretos. Para ela, existe apenas um tipo de homens: Homens. Ela vive com seu pai, Atticus, seu irmão 4 anos mais velho, Jem, e sua empregada negra, Calpurnia. Por ter crescido ao lado do irmão, Scout não age de modo muito feminino, usando macacões e ganhando olhares desaprovadores de senhoras da vizinhança. Mas ela não se importa, pois se sente muito mais confortável em seu modo de agir, e como diz no livro mais para frente acredita que o mundo dos homens é muito mais verdadeiro, enquanto as mulheres precisam se preocupar em manter as aparências sempre.

Não é apenas uma crítica ao comportamento feminino, mas também uma apresentação da sociedade na época. As mulheres ficavam em casa, cozinhavam e precisavam satisfazer o marido. Criada com um pai viúvo, Scout não acreditava que esse era um modo muito bom de se viver, e acreditava que quando crescesse poderia ser uma profissional de respeito: uma médica, ou uma advogada.

Jem, seu irmão, é fundamental para o desenvolvimento de Scout, de modo que influencia a irmã desde que ela se entende por gente. O menino também admira muito o pai, o tendo como figura de autoridade e sonhando ser como ele quando crescer. Apesar de ser extremamente grosso em certas partes da história, tratando Scout como um garoto mesmo, ele genuinamente se preocupa com sua irmã, e age assim porque foi como cresceu.

Um certo verão, quando tinham 6 e 10 anos, os irmãos conhecem Dill e se tornam amigos rapidamente. Eles encenam peças em seu tempo livre, curiosos por conhecer o vizinho dos Finch, Boo Radley, que não havia saído de casa há 25 anos, como diziam os boatos. 

Atticus, o pai deles, é um homem de uma moral inabalável, e desaprova as tentativas dos menores de espiarem a casa do vizinho. Atticus é o grande herói da história, o equivalente ao cavaleiro com armadura dourada, sendo estupidamente nobre e em certos casos aguentando insultos que fariam o mais paciente dos homens balançar. Sendo um pai solteiro, que cria os filhos apenas com a ajuda da empregada, ele se preocupa em não ser capaz de providenciar aos filhos a educação que eles necessitam, mas se esforça ao máximo e tem a eles como o maior tesouro em sua vida. Ele é muito querido por toda a cidade, como se pode observar mais tarde no livro, e um advogado de respeito. 

Ao longo da história, ele se vê necessitado de defender um caso com fortes implicações morais, uma acusação de estupro, supostamente realizado por um homem negro. Considerando esse possivelmente o caso de sua vida, ele se vê aceitando o caso, independente do preconceito da população local e das dificuldades que passa por isso. As reações das pessoas são extremamente humanas, mostrando o lado mais feio que pode chegar nossa personalidade, e sendo uma ótima análise da natureza do homem.

Calpurnia é a empregada da casa, uma negra mais velha, mas alfabetizada e que trabalha na casa desde o princípio de suas estruturas, sendo considerada já parte da família. Ela ensina Scout a escrever, e é uma das figuras femininas mais marcantes não só para o leitor, mas também para nossa protagonista. Por meio dela Scout se vê capaz de se inserir, mesmo que não muito, no universo dos negros, vendo as coisas por seu ponto de vista. Aliás, essa é uma frase marcante no livro:

“You never really understand a person until you consider things from his point of view... Until you climb inside of his skin and walk around in it.”

Outras frases que também me marcaram:

“Until I feared I would lose it, I never loved to read. One does not love breathing.”

“With him, life was routine; without him, life was unbearable."

“It’s never an insult to be called what somebody thinks is a bad name. It just shows you how poor that person is, it doesn’t hurt you.”

Enfim, esse é um livro incrível, que eu realmente recomendo para todos. Boa leitura e ótimo feriado, bookaholics!

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